Já imaginou um mundo sem a Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM)? Sem a sua presença profética, sem a sua ousadia teológica, sem a sua história marcada por acolhimento, resistência e amor radical?
A ICM nasceu do inconformismo. Em 1968, o Reverendo Troy Perry reuniu 12 pessoas em sua sala de estar, nos Estados Unidos, ousou dizer que Deus amava todas elas — inclusive e especialmente aquelas que haviam sido rejeitadas pelas igrejas tradicionais. Ele ousou afirmar que pessoas LGBTQIA+ também eram imagem e semelhança de Deus. E esse gesto simples, mas profundamente revolucionário, plantou a semente de uma das maiores igrejas inclusivas do mundo.
A pergunta “E se a ICM não existisse?” nos provoca a olhar para tudo que ela representou e representa. A ICM foi pioneira na luta por inclusão dentro do cristianismo. Antes mesmo que o termo “inclusiva” ganhasse espaço nos púlpitos e nas redes sociais, a ICM já estava lá — pregando, servindo, casando, batizando, acompanhando pessoas com HIV/AIDS em seus leitos, lutando por dignidade humana e justiça social.
Enquanto o fundamentalismo religioso crescia usando a Bíblia como instrumento de opressão e controle, a ICM foi na contramão disso, e ousou usar suas vozes a dizer: isso não é esse o Evangelho de Jesus. A ICM foi rompendo muros, desconstruindo dogmas que adoecem e proclamando uma teologia progressista que afirma a diversidade dos corpos, das sexualidades e das espiritualidades.
Foi na ICM que muitas pessoas ouviram, pela primeira vez, que Deus não as odiava, não as rejeitava, não as condenava. Foi na ICM que corpos historicamente marginalizados — lésbicas, gays, pessoas trans, negras, indígenas, pessoas vivendo com deficiência, pessoas vivendo com HIV, empobrecidas, mulheres em segundo casamento — encontraram um espaço seguro para serem quem realmente são. Para se curarem, se reconectarem com a espiritualidade e descobrirem a melhor versão de si mesmas.
A ICM não foi apenas uma igreja que acolheu. Ela foi, e ainda é, um movimento social e espiritual que constrói possibilidades. Que participa da história. Que se posiciona diante das injustiças. Que forma lideranças comprometidas com o Evangelho do amor e da igualdade. Que tem coragem de denunciar e anunciar. Que não se cala quando vidas estão sendo ameaçadas.
Ela continua sendo lugar de voz e vez. Lugar onde o púlpito é para todas, todos e todes. Lugar onde os dons de cada pessoa são valorizados, e não apagados por sua identidade.
Mais de cinco décadas depois da sua fundação, a missão da ICM segue viva. Ainda há muita dor causada pela religião. Ainda há muita gente acreditando que não pode ser amada por Deus por causa de quem é. Ainda há muitos corpos sendo silenciados.
Por isso, é urgente continuar esse projeto chamado ICM. É urgente seguir levando adiante a missão do Radical Amor de Deus — um amor que acolhe, transforma, inclui, liberta. Um amor que nos convida a construir uma igreja e uma sociedade mais justas, mais humanas e mais diversas.
E se a ICM não existisse?
Talvez muitos de nós jamais teríamos ouvido:
“Deus te ama exatamente como você é.”
Mas a ICM existe. E enquanto ela existir, seguirá sendo um sinal de esperança e a construção de um mundo melhor.
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