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Em 1959 o Revdo Bispo Dr. Troy Perry, fundador da Fraternidade Universal das Igrejas da Comunidade Metropolitana, a FUICM, foi expulso do Midwest Bible College, em Chicago, por ser homossexual.

No ano de 2004, na mesma cidade na qual foi expulso da escola bíblica, o Revdo Troy, como nós o chamamos carinhosamente, de 65 anos de idade, foi nomeado membro da Junta Administrativa do Chicago Theological Seminary. É uma das muitas honrarias que se lhe têm entregue durante seus 35 anos de ministério. Recentemente, se aposentou do cargo de moderador da FUICM no ano de 2005.

“Eu sou uma pessoa de oração”, afirma. “Em 1999 durante um momento de oração tomei a decisão de aposentar-me. Eu anseio o futuro, o sangue novo que mantenha forte a Igreja”.

A história do Revdo Troy é fascinante: uma viagem, as vezes dolorosa, através de capítulos da história dos EUA, que nem sempre foi amável com os gays e as lésbicas. 
Nascido em Tallahassee, Florida, cresceu na área central desse estado e se mudou para Winter Haven aos 12 anos. Sua mãe era batista e seu pai pentecostal e a Igreja era uma grande parte de sua vida.

“Eu ia à igreja de minha mãe ao domingo pela manhã e á noite a de meu pai”, recorda ele.

Quando tinha 13 anos seu pai morreu. Imediatamente começou a pregar nas igrejas Batista e Pentecostal. Dois anos mais tarde formou-se como Ministro Batista. Foi naquele tempo quando se deu conta de que era homossexual.

“Eu sabia que os homens me atraiam. Porém não havia um nome para isso naquela época, naquele tempo as pessoas acreditavam que se alguém incorria em atos homossexuais, era um heterossexual que andava mal, era um comportamento doentio, mau, criminoso, pecaminoso. A homossexualidade era nomeada somente às escondidas”. Revdo Troy acrescenta “Eu pensava que era o único”.

Aos 18 anos, confiou seu segredo ao pastor de sua igreja Pentecostal. “Quando lhe contei sobre meus sentimentos, seus olhos faiscaram. Ele me disse: Tudo o que precisas é casar-te com uma boa mulher”.

O casamento e o divorcio

O Revdo Troy casou-se com a filha de seu pastor. Um ano mais tarde, ele, sua esposa e um filho recém nascido se mudaram para Chicago, onde freqüentou o Midwest Bible College.

“Lá, família de minha esposa disse à ela que sabiam sobre a expulsão do colégio. Ela lhes respondeu que continuaria junto a mim”. Enquanto estudava, o Revdo Troy trabalhava em uma empresa de plásticos.

Em 1962 foi transferido para o sul da Califórnia. Foi ali onde aceitou sua orientação sexual. “Contei sobre minha orientação sexual à um oficial da igreja Pentecostal que se mostrou horrorizado e quis saber se isso eu havia molestado meninos. Eu lhe disse que não tinha nada que ver com isso” O oficial informou ao bispo e ele foi excomungado.

“Foi muito duro. Eu tomei a decisão de que se Deus não podia amar-me, então eu tampouco podia amá-lo. Disse-lhe que se fosse de minha vida.”

O Revdo Troy e sua esposa se separaram depois de cinco anos de casamento e logo se divorciaram. Os parentes de sua esposa o denunciaram e ele foi incorporado às forças armadas para cumprir dois anos de serviço militar. Desde 1965 a 1967 esteve servindo como militar na Alemanha. “Foi um tempo maravilhoso”, conta. Ele crê que os militares o ajudaram a desenvolver habilidades de liderança “Me fez considerar como lutar por meus direitos. Me deu firmeza. Me ajudou no movimento de libertação gay e lésbico, me ensinou como lidar com a polícia” afirma. Seus amigos dizem que ele foi ao serviço militar como Clark Kent e saiu como Super Homem.

Quando saiu, regressou à Califórnia. Em 1967 tentou suicidar-se. “Um amigo me encontrou na banheira, com a água correndo” Conta o Revdo Troy. “Sentia que não havia mais motivos para viver”. Enquanto esperavam que o médico o atendesse no hospital, uma mulher afro-americana lhe perguntou “Não pensa que fizestes algo realmente estúpido?” O incidente trouxe a tona todas as lembranças de sua formação religiosa e ele pediu a Deus que o perdoasse.

Foi até fins dos anos 60, quando compreendeu que uma pessoa podia ser cristão e gay ou cristã e lésbica. “Deus me disse, Te amo, Troy. Eu não tenho enteados nem enteadas, tenho filhos e filhas”, conta ele. Então começou a buscar uma igreja para freqüentar. Sua mãe se surpreendia, porque o Revdo. Troy dizia às pessoas da igreja que era gay. “Disse à minha mãe que não ia mentir à ninguém sobre quem eu sou”.

O lançamento de uma denominação

O Revdo Troy iniciou a primeira ICM na cidade de Los Angeles, em 1968 com apenas 12 congregados. Hoje a FUICM tem mais de 60.000 membros mais de 300 igrejas de 22 países ao redor do mundo.

“Quando se iniciou a primeira ICM, eu não sabia se íamos passar do primeiro culto. Porém logo soube que seríamos um grupo internacional. Começamos a receber correspondência do mundo todo”.

A FUICM mudou desde suas origens. Nos primeiros tempos qualquer pessoa que se sentisse chamada ao ministério podia ser ordenada. Agora, o clero da ICM precisa formação nos seminários e também nos cursos próprios da Denominação. Fazem estagio como estudantes à clérigos e têm seus antecedem revisados. “Nossos clérigos seguem um código de ética”, diz o Revdo Troy.

“Nossos membros da ICM, dão muita importância à espiritualidade atualmente. Se lhes perguntar se são religiosos, certamente dirão que não. Mas se lhes perguntar se são espirituais, seguramente responderão que sim. Eles e elas poderão freqüentar uma sinagoga, uma mesquita, um templo ou uma igreja, mas ainda assim são espirituais”.

A FUICM têm, em relação a doutrina, uma grande diversidade de critérios e uma variada gama de estilos litúrgicos devido a que as pessoas vêm à ICM de muitas tradições religiosas diferentes.

“Por isso não discutimos sobre a comunhão: uns a vêem como um Memorial, como no caso dos Pentecostais, e outros como Corpo e Sangue de Cristo, por exemplo: os católicos Romanos.”

“A ICM prega um evangelho inclusivo de três pontos: Salvação Cristã, Comunidade Cristã e Igualdade de direitos”. No principio algumas pessoas do Movimento de direitos LGBT suspeitaram da ICM. Eles haviam sido feridos pela Igreja e não importava que esta fosse uma igreja gay ou lésbica. Depois começaram a confiar em nós.” conta.
As reações do público, em geral, para com a ICM varia desde a indiferença até a violência ultrajante. Nestes anos todos, 22 ICMs foram arrasadas por incêndios criminosos. O Revdo Troy recebeu ameaças de morte e algumas vezes viaja com guarda-costas.

“O Revdo Troy Perry é um herói para muitos e muitas no Movimento gay” afirma Wayne Besen, porta voz do Human Rights Campaign. “Sua mensagem de que podes ser gay e cristão ou lésbica e cristã, especialmente entre os fundamentalistas, têm salvo muitas vidas”.

Sua vida de oração, seu senso de humor e seu companheiro Philip Ray DeBliek, que estão juntos a 20 anos, são o apoio e a força do Revdo Troy. “Sou um trabalhador constante. Philip me mantém centrado no que devo fazer e me ama incondicionalmente”

O Revdo Troy conquistou muitas honrarias. Serviu na Comissão de Direitos Humanos do Condado de Los Angeles, foi convidado pelo então presidente Jimmy Carter para a discussão sobre direitos homossexuais na Casa Branca em 1977, e foi hóspede do ex-presidente Bill Clinton em 1997 na Conferência sobre Crimes de Ódio da Casa Branca.

Têm um doutorado Honoris Causa em ministério do Samaritan College de Los Angeles e outro em serviços humanitários da Sierra University de Santa Mônica, Califórnia. A Gay Press Association lhe deu seu Prêmio Humanitário. É autor dos livros “The Lord is My Shepherd and Knows I´m Gay” e do “Don´t Be Afraid Anymore”, entre outros. No Brasil, foi convidado pelo Governo do Presidente Lula para discutir o Programa Nacional Por Um Brasil Sem Homofobia, em 2003. 

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